Ansiedade e Estresse no Mundo Corporativo e Alternativas para Quem Busca Equilíbrio
- Elisa Paolucci
- 24 de jan. de 2022
- 6 min de leitura

Tem se falado muito em Inteligência Emocional no ambiente corporativo. Os soft skills pularam para o topo da lista do profissional qualificado.
Antes de requisitos técnicos (normalmente, pré-requisitos para os candidatos a novas vagas), se avalia: como a pessoa se comunica, como trabalha em equipe, é inovadora? Como esse profissional reage a situações adversas?
Fazendo uma autoanálise:
Quantas vezes você chegou de manhã no trabalho um pouco perdido, com falta de energia e desmotivado?
Você já perdeu a paciência rapidamente com alguém da equipe ou algum colega?
Você já leu rapidamente um e-mail e respondeu de forma impulsiva sem antes ter entendido a mensagem?
Sabe-se que um dos pilares da Inteligência Emocional é a habilidade de reconhecer e controlar as próprias emoções.
Mas falando de emoções, como está o Brasil nesse quesito?
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2020, o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com transtornos de ansiedade no mundo e o quinto em casos de depressão. Segundo estimativas divulgadas, 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população:
“Pesam nesse cenário, dizem especialistas, fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego, e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.
O transtorno de ansiedade é marcado por sintomas como a dificuldade de concentração, problemas no sono e preocupação excessiva.”
No mundo corporativo, a preocupação com a saúde mental dos funcionários só aumenta, não à toa: pesquisas colocam o Brasil em 2º lugar no ranking de trabalhadores com Burnout no mundo. Inclusive, a partir desse ano, o Burnout — síndrome de esgotamento emocional — passou a ser considerado pela OMS como doença ocupacional.
É fato que a ansiedade e estresse em demasia, além de diversos outros fatores negativos que abordaremos mais adiante, prejudicam o desenvolvimento de atividades diárias, já que quando estamos nesses estados, as emoções são ativadas automaticamente e o racional fica prejudicado.
Segundo neurocientistas, quando estamos com muito medo ou estressados por algum motivo, o nosso cérebro começa a produzir hormônios como o cortisol e adrenalina, que em quantidades normais são necessários para nossa saúde, funcionamento e até sobrevivência, mas em excesso são muito prejudiciais.
Tais hormônios são produzidos para que nosso corpo se prepare para fuga ou ataque em reação a uma situação que o cérebro interpreta como perigo, o famoso “lutar ou fugir” ou “salve-se quem puder” rs.
Antigamente, esse “lute ou fuja” vinha em momentos de real perigo físico, como por exemplo, quando os homens das cavernas se deparavam com um animal que poderia matá-los. No entanto, conforme evoluímos os perigos viraram outros; eles podem ser externos e reais (como um acidente de trânsito), mas podem também ser criados por nós mesmos internamente (psicologicamente). Nesses momentos nosso corpo começa a gerar esses “alarmes” de proteção inundando o nosso corpo com os hormônios do estresse. É o que acontece quando estamos com muita ansiedade, que nada mais é do que uma preocupação com alguma coisa que entendemos como um perigo iminente, normalmente tentando prever o futuro.
Já participou de uma reunião e de repente começou a se sentir desconfortável, trêmulo, a suar, ficou com a boca seca e não conseguia raciocinar direito? Então, essas são reações físicas que o nosso corpo manifesta como resposta a esses hormônios. É o nosso cérebro nos dizendo que estamos em perigo e que precisamos preparar nosso corpo para combate.
Louco né?
Ocorre que o cortisol e adrenalina (noradrenalina também) tem um efeito de uma venda sobre os nossos olhos. Quando estamos sob as suas influências, por exemplo, é um péssimo momento para tomadas de decisão, já que o raciocínio fica super prejudicado. Claro, o seu corpo está preparado para fuga, para reação, então pra que pensar? Pensar não rola, fica mais fácil surtar rs.
Seria engraçado se não fosse trágico.
Além dos efeitos negativos imediatos descritos acima, esses hormônios em demasia no nosso corpo podem afetar em muito a nossa saúde, inclusive desencadear doenças e ocasionar envelhecimento precoce. O Dr. Ramon. M. Cosenza, autor do livro Neurociência e Mindfulness: Meditação, Equilíbrio Emocional e Redução do Estresse, explica:
“(...) o estresse é um fenômeno que ocorre quando estamos diante de uma situação desafiadora. Vimos que, nesses casos, é ativado o sistema simpático, que mobiliza o corpo e os processos mentais para enfrentar a situação, instalando-se o modo “lutar ou fugir”. São liberados hormônios como cortisol e adrenalina, é ativado o sistema imunitário e providenciada a energia necessária para garantir a sobrevivência do organismo. O estresse agudo é, então, um fenômeno importante e adaptativo. No entanto, se essas situações se prolongam, ocorre o estresse crônico, que causa sofrimento e doenças que prejudicam o organismo. O estresse também gera consequências no cérebro, pois o cortisol, um hormônio da glândula suprarrenal, destrói neurônios do hipocampo (importante para a memória) e do córtex pré-frontal (importante para o raciocínio crítico e a tomada de decisão). Além disso, o cortisol estimula a amígdala, aumentando a reatividade emocional. É um círculo vicioso completamente desastroso.
Estresse intenso e prolongado pode levar à síndrome de esgotamento, ou burnout, que se caracteriza por exaustão emocional e física, bem como um sentimento de alienação do trabalho, da família e uma terrível incapacidade de se sentir eficaz.”
Viu só? Mas calma, tem boas notícias também. Existem antídotos para esses hormônios do estresse, os famosos “hormônios da felicidade”, como a serotonina, endorfina e a dopamina. Esses neurotransmissores são liberados, por exemplo, quando fazemos exercício físico ou alguma atividade que nos dá prazer.
Existem casos mais graves que precisam de auxílio médico para tratamento psiquiátrico, mas não cabe aprofundar nesses, o foco aqui é apresentar formas alternativas para dar uma estimulada nos hormônios do prazer.
A terapia ajuda muito, já que é um recurso que pode nos levar ao autoconhecimento, reconhecimento e regulação das emoções / autocontrole (como propõe a Terapia Cognitiva Comportamental).
Você sabia que isso é possível através de meditação também? Segundo o Dr. Ramon, a regulação emocional pode ajudar no controle da produção de cortisol em momentos de estresse:
“A prática da meditação, assim como outras práticas contemplativas, particularmente a atenção plena, ou mindfulness, parece ser bastante efetiva na promoção da autorregulação emocional, em especial quando se trata de emoções negativas, mas ela também pode ser utilizada, como veremos, na indução de estados emocionais positivos.
Recordemos que a essência de mindfulness é prestar atenção ao que acontece no momento presente, com gentileza e abertura. Isso permite que a experiência seja explorada de modo não reativo, mudando a relação dos indivíduos com seus processos mentais: é possível perceber que os pensamentos, sentimentos e experiências emocionais são processos que ocorrem no corpo e no espaço mental, mas que não precisamos nos identificar de forma automática com eles. Com a ajuda da meditação, as pessoas aprendem a escolher com quais pensamentos, emoções ou sentimentos elas irão se reconhecer, inibindo respostas impulsivas decorrentes do funcionamento do “piloto automático”.
O autor explica ainda que:
“A meditação é uma das práticas mais eficazes para lidar com o estresse. Muitas pesquisas reiteradamente têm comprovado esse fato. Mindfulness não só leva a uma melhora na percepção subjetiva da sensação de estresse, como também altera os indicadores fisiológicos: diminui o cortisol circulante e a atividade simpática, dando lugar a um predomínio das ações do parassimpático, e melhora a resposta imunológica. Há deslocamento da reação de “lutar ou fugir”, controlada pelo simpático, para a reação de “acalmar e interagir”, controlada pelo parassimpático. A meditação reforça o córtex pré-frontal e diminui a atividade e até a estrutura da amígdala – efeitos exatamente opostos aos ocasionados pelo estresse.”
Uma vida mais saudável e equilibrada contribui para a regulação dos hormônios de estresse no corpo. Mas não há como falar de vida saudável sem falar de alimentação, não é mesmo?
A Health Coach de Saúde Integral, Laura Santiago explica:
“Posso enfatizar minha escolha de palavras: o papel que a nutrição precisa desempenhar? Acredito e defendo o fato de que a nutrição é uma parte muito poderosa no quadro geral da saúde. A alimentação saudável pode ser uma ferramenta muito eficaz por si só. A comida que ingerimos influencia diretamente o território bioquímico interno do nosso organismo. A nutrição pode, de muitas maneiras, ser vista como medicinal. Um medicamento, afinal, produz seus efeitos influenciando os eventos bioquímicos internos do nosso corpo. Portanto, tendo isso em mente, desprezar a nutrição ao falar de saúde é no mínimo irresponsabilidade e, na pior das hipóteses, uma loucura. A alimentação saudável não tem todas as respostas o tempo todo. Mas, em praticamente qualquer circunstância, a alimentação saudável terá uma influência.”
Segundo a Laura, existem alimentos específicos que podem auxiliar no controle da ansiedade, como os ricos em fibra (feijão, arroz integral, frutas vermelhas, farelo de aveia, pêra, maçã, assim como aqueles ricos em vitaminas D, B1, B6, A, C e E); especiarias também, como a poderosa cúrcuma. E alimentos que podem agravar (componentes da dieta ocidental): aqueles com excesso de gorduras nocivas (carne vermelha, frituras) e carboidratos de alto IG ( pão branco, arroz branco, batata, massa e tudo que é feito com farinha refinada); assim como o abuso de cafeína e álcool.
Como podemos ver, uma vida mais saudável e equilibrada contribui para a regulação dos hormônios de estresse e definitivamente contribuirá na sua performance e produtividade no trabalho.
A ideia não é dizer que temos que evitar estresse a todo custo, isso é impossível, principalmente para as pessoas que buscam o sucesso profissional, mas sim mostrar que há meios para uma compensação.
Equilibre-se!
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