
Recentemente a Meta (antigo Facebook Inc) anunciou que até o final de 2022 lançará um supercomputador de Inteligência Artificial (IA) mais rápido do mundo, chamado RSC (Research Supercluster).
Os engenheiros da Meta explicam para que serve essa mega máquina:
“A RSC ajudará os pesquisadores de IA da Meta a construir novos e melhores modelos de IA que podem aprender com trilhões de exemplos; trabalhar em centenas de idiomas diferentes; analisar perfeitamente textos, imagens e vídeo juntos; desenvolver novas ferramentas de realidade aumentada; e muito mais”
Sim, o computador será utilizado para criar experiências no tão falado Metaverso.
Ou seja, o computador mais veloz existente, capaz de analisar trilhões de dados, milhares de textos e vídeos em centenas de idiomas…
Não tem como não vir a pergunta, o que sobra para nós pobres mortais desempenharmos?
Será que a criação vai superar o criador?
Não é intenção aqui aprofundar a análise do ponto de vista neurobiológico e da tecnológica, mas a que tudo indica, mesmo com todos esses avanços, o computador está longe de alcançar a capacidade do nosso cérebro diante de sua complexa rede de bilhões de neurônios, com milhares de conexões entre si.
Claro que quando estamos falando de cálculos e armazenamento de dados entre algumas outras funções, não temos como competir com a máquina (mesmo que no segundo caso seja porque não utilizamos a totalidade da nossa capacidade cerebral).
Mas o que nos dá uma folgada vantagem da máquina são as nossas funções cognitivas e as nossas emoções. Mas emoções são boas? É um diferencial ter emoções mesmo no ambiente de trabalho?
A resposta é SIM! Desde que você saiba como controlá-las e usá-las a seu favor.
Segundo Daniel Goleman, autor do livro Inteligência Emocional (IE), os 5 Pilares da IE são Autoconhecimento; Autocontrole; Automotivação; Empatia; e Habilidades Sociais (Relacionamentos Interpessoais).
Segundo o autor, o QI de uma pessoa (Quociente de Inteligência) contribui em apenas 20% para o seu sucesso de vida, enquanto outras forças como a Inteligência Emocional representam os outros 80%.
De acordo com esse mesmo livro, se danificada a área do cérebro responsável pelas emoções (decorrente de um acidente, por exemplo), a capacidade de decisão do indivíduo fica extremamente prejudicada, já que a memória emocional desaparece e ela é importantíssima para o bom julgamento. A criatividade, a inovação, o planejamento e a cooperação estão todos intimamente ligados à nossa capacidade de sentir (as nossas emoções).
E quando usamos e aprendemos a lidar com as nossas emoções? Quando nos expomos!
Quando diante das experiências da vida, reagimos, reconhecemos as nossas ações e se elas não foram adequadas, tentamos melhorar, evoluir. Quando contribuímos como um time, reconhecendo uns aos outros, cedendo, relevando.
Quando aquela pessoa gente boa no escritório vem perguntar porque você não parece bem ultimamente; quando um líder, nas entrelinhas, percebe do seu time que não é o melhor momento para tomar uma decisão; ou quando vamos muito mal numa apresentação mas no dia seguinte voltamos de cabeça erguida dispostos a fazer melhor. Estamos exercendo características como empatia, resiliência, percepção do sentimento alheio, características essas que um computador definitivamente não tem.
O Metaverso, desenvolvido pela Meta, tem como principal objetivo criar ambientes virtuais que reproduzem o nosso cotidiano, como o escritório, baladas, entre outros.
A ideia é que tenhamos uma representação virtual de nós mesmos, um Avatar, que participa de confraternizações, reuniões com família e reunião de trabalho. Me parece que nesse caso o “real” nós estaria por detrás das cortinas, fora do palco, emoções “protegidas” e invisíveis aos demais.
A palavra Metaverso é a junção do substantivo Universo com o prefixo “Meta” o qual tem origem grega e significa “além”, indicação daquilo que transcende que vai além de outra coisa. Será que a intenção é irmos além dos nossos sentimentos, das nossas fragilidades humanas?
Uma curiosidade é que existe um termo utilizado na psicologia que se chama “metacognição” (coincidência?). Ele foi definido por John Flavell (Stanford University) nos anos 1970 como “o conhecimento que as pessoas têm sobre seus próprios processos cognitivos e a habilidade de controlar esses processos, monitorando, organizando, e modificando-os para realizar objetivos concretos”. Ou seja, essa capacidade possibilita o ser humano a se conhecer melhor, se auto regular, auto monitorar para melhores resultados. Outra forma de chamar a metacognição é: autoconsciência.
Evolução tecnológica é muito bem vinda, não me entenda errado, traz melhorias na nossa qualidade de vida, facilita nosso dia a dia, traz avanços na área de ciências e saúde e o computador é, definitivamente, ferramenta indispensável na alta performance profissional.
No entanto, quando estamos falando de relacionamentos interpessoais, colocar um Avatar “pra jogo” pode ser uma tentativa perigosa de nos afastar de nossas emoções, escondê-las ou evitar ter que controlá-las.
O Metaverso apresenta avanços tecnológicos impressionantes, mas quando estamos falando em evoluir e sermos melhores humanos, quanto se perde? Definitivamente, muitas oportunidades de exercitar aquelas características que ainda nos fazem sobressair ao computador.
Referências:
https://www.theverge.com/2022/1/24/22898651/meta-artificial-intelligence-ai-supercomputer-rsc-2022
Goleman, Daniel. Emotional Intelligence: why it can matter more than IQ
https://www.psicologiaexplica.com.br/o-que-e-metacognicao/
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